Alcançar aquela montanha
Vamos falar sobre como deves procurar ganhar perspectiva, estabilidade e equilíbrio entre os vários momentos da tua vida. No final, deixa-nos um comentário e partilha as tuas experiências.
Há muitos motivos para se ser trabalhador independente: somo-lo porque nos acontece ou porque a nossa área nos acomoda dessa maneira; somo-lo porque há um apelo irresistível pelo domínio, ou o aparente domínio, de todas as partes da nossa vida; somo-lo porque precisamos de controlo sobre o nosso tempo para tratar de um parente doente ou da nossa doença; somo-lo porque o somos e isso está enraizado em nós. Todos os motivos são válidos, mas nem todos estão alinhados connosco.
Sermos gestores de todas as áreas da nossa vida, incluindo o trabalho, pode trazer-nos coisas positivas e negativas. Nem tudo é um mar de rosas, nem tudo é uma dificuldade tremenda. Como em qualquer montanha, há subidas e descidas e tudo que é complicado alivia. O segredo é encontrar equilíbrio.
Quando falamos em equilíbrio, não queremos que imagines um equilibrista a atravessar um fosso entre dois blocos de terra num precipício, mas que penses na montanha com um planalto em que tens espaço para te mexeres e viveres confortavelmente. A ideia é atingir uma vida saudável e feliz e o nosso trabalho pode ser tanto a origem de realização e conforto, como de desespero e tristeza.
Há muitos factores que tanto nos podem conduzir a subida confortável da montanha como à queda abrupta. E muitos deles começam em nós, no nosso meio, e no que fazemos por ele.
Tu não és o teu trabalho
Quando somos TI's, a identificação com o nosso trabalho é algo difícil de evitar. Todos os nossos momentos são possíveis momentos de trabalho: quando conhecemos alguém, podemos estar a fazer um contacto; quando saímos para jantar com amigos, podemos receber uma chamada porque algo ficou por fazer ou explicar a um cliente. E é importante traçar limites. O nosso trabalho é uma porção importante das nossas vidas – trabalhamos uma grande parte do nosso tempo – mas as outras porções são tão ou mais importantes e deves defendê-las com garra. Há um momento em que deves pensar em ti como um indivíduo com multitudes e não como um jornalista, designer, personal trainer, etc.
Repara se começas as tuas apresentações fora do ambiente profissional com o teu nome e a tua profissão. Faz um exercício por mudar isso: o que vais dizer? É difícil não é? Ninguém disse que seria fácil.
Não sejas o teu pior inimigo
Na verdade, não sejas teu inimigo de todo. Mas isto não é assim tão fácil. Quando trabalhamos, quando vivemos até, a nossa mente tende a ser o nosso pior amigo. É ela que nos lembra que ainda não duvidamos das nossas capacidades hoje, que se calhar estamos a pedir muito por projecto e que talvez tenhamos mesmo cometido um erro tremendo naquela entrega e que não merecíamos o que recebemos.
No mundo do trabalho devemos eliminar inimigos sempre que possível, ora por transformá-los em colegas saudáveis, ora por nos afastarmos de relações profissionais que não funcionam. Mas é importante que te trabalhes a ti. Que guardes próximo de ti o que fazes bem. Que tenhas momentos realistas (ou irrealistas) de auto-aprovação. Pat yourself on the shoulder. E lembra-te quando fizeste e quando estás a fazer um bom trabalho: nem sempre temos por perto pessoas capazes de nos congratularem e, quando não temos uma equipa que nos apoie, isso pode ser ainda mais agressivo. Sê teu amigo.
Não sejas desonesto
Com os outros, fá-lo sem seres enganado. Tem cuidado e protege-te. Num mundo perfeito, não existe sinceridade a mais, mas – caso não tenhas aberto o jornal hoje, fá-lo – não vivemos num mundo perfeito. Sermos honestos é uma virtude indispensável para seres um bom profissional: as pessoas resistem a alguns níveis de honestidade, mas, no final, acabam a olhar para um profissional honesto como alguém com quem podem contar e toda a honestidade acaba por compensar e trazer-te a bons portos.
Mas e contigo? Consegues ser sincero contigo? Consegues apontar quando erras e verificar se a história que contas a ti mesmo corresponde à verdade? Erraste mesmo? Se sim, porque erraste? Onde erraste? Com que intenção erraste? Veres o teu mundo com clareza pode ajudar-te a separar águas e ganhar perspectiva sobre o que realmente aconteceu. E outra coisa: sê principalmente sincero contigo quando não erraste. Tendemos a não registar tanto esses momentos a menos que seja um terceiro a dizer-nos.
Não te roubes
Tu és tu, quer estejas a trabalhar, a descansar ou a viver qualquer outro aspecto da tua vida. Tu és sempre o mesmo. Contudo, sendo TI, é fácil cair em erros de rotina que nos podem levar a estados de vida gravosos, como por exemplo:
Há o indivíduo pessoal, que se deita livre e acorda indivíduo trabalhador, arrasta-se para o banho, vai para a secretária com as energias renovadas da manhã e lentamente vai-se transformando no indivíduo pessoal outra vez, mantendo quase duas personalidades diferentes no mesmo dia que mudam com o sol.
Ou o multitasker, que mistura tudo. Trabalha e vive ao mesmo tempo. Pára o trabalho para atender chamadas com amigos ou ir beber um café, mas vai sempre até às 2h da manhã a trabalhar, responder a emails e resolver coisas. No final, trabalha 8 horas como qualquer outra pessoa, mas nunca desligou.
Pensa na tua vida como um todo. Uma fortaleza com divisões. Usa cada divisão para a sua utilidade, cria espaços comuns se precisares, mas não os uses regularmente. Divide as coisas. E escolhe um local arejado e confortável para deixares a tua vida pessoal, trata-o bem, e mete dois guardas à porta capazes de segurar o forte e protegê-lo de visitas das outras divisões. Protege-te de roubos.
Poupa a tua energia
Quando lidamos com trabalho há sempre imprevistos, há sempre mal-entendidos, momentos em que tudo corre mal, momentos em que somos desrespeitados ou desrespeitamos. Momentos em que temos de não produzir para ponderar acções e momentos em que temos de reagir.
Isto exige um controlo mental grande. Aprender a agir em situações profissionais e reduzir o número de reacções que temos ao mínimo requer um grande auto-controlo. Quando alguém nos prejudica ou cria um desequilíbrio na nossa vida pessoal ao forçar-nos a trabalhar ao fim de semana, por exemplo, a nossa primeira vontade é reagir – e se calhar é a coisa certa a fazer. Mas é importante saber medir todas as situações, falar de cabeça fria e ponderar acções. Às vezes pedir a um cliente para desligar uma chamada e ligar 10 minutos depois, pode ser melhor que dizer algo que não sabemos se é correcto dizer e que pode criar um problema e uma discussão maior que a primeira. Não estamos a dizer para acatares o que te acontece. Mas sim para ponderares sobre o que te acontece.
Antes de mais, voltamos ao ponto fulcral que referimos em primeiro lugar: tu não és o teu trabalho. Apesar do teu bem-estar estar ligado à estabilidade financeira, e essa, ao teu trabalho, é importante mentalizares-te que não existem coisas irreversíveis. Há sempre outro cliente, outro projecto, outra oportunidade e outro momento, até existem outras profissões – apostamos que estás a pensar que o teu caso é diferente, mas isso talvez sejas tu e enganares-te, pondera bem e relativiza.
Relativizar a importância do nosso trabalho na nossa vida pode ajudar-nos a retirar o peso emocional da nossa capacidade de tomada de decisão, tornando-nos mais analíticos e racionais.
Quando a tua prioridade é salvaguardares o teu bem-estar, deves tentar que o teu trabalho, e tudo que não é do foro pessoal, invada o menos possível o teu espaço privado. Não deves levar trabalho para casa, nem na tua cabeça. E deves separar as águas. Mesmo que trabalhes com alguém com quem vives, devem evitar falar de trabalho em certos momentos: o que é mais importante?
Uma forma de teres uma boa separação do tempo de trabalho, é seres o mais eficiente possível. E eficiência e produtividade não têm que ver com utilizares todos os momentos para fazer coisas ou para atingir objectivos e tarefas feitas. Tem a ver com certificares-te que todas as tuas acções levam a resultados. Todos os teus gastos de energia têm frutos, por maiores ou mais pequenos que sejam.
Imagina: recebes uma chamada de um cliente que te impõe um prazo impossível de resolver e te força, desrespeitosamente, a mudar as tuas férias que estavam marcadas há meses. Desligas a chamada, dás um soco na mesa e dizes uma série de coisas para te aliviares. Um minuto depois, dói-te o dedo mindinho porque bateste mal com a mão, estás exausto por te teres enervado, mas continuas a ter de estruturar uma abordagem para conseguires salvaguardar as tuas férias e resolver a situação. O teu gasto de energia foi ineficiente e não trouxe frutos.
Sobe aquela montanha
Para subir a montanha, às vezes temos de parar, montar acampamento e dormir. Outras vezes corremos, mesmo no meio de uma área rochosa e perigosa, porque estamos enérgicos e queremos chegar ao próximo acampamento ainda hoje.
Tudo está certo, mas lembra-te de analisar.
Percebe que o objectivo não é subir sem parar, mas desfrutar da viagem.
NL1: Quanto realmente custa um Euro?
Nesta newsletter, ajudamos-te a encontrar o valor médio que tens de facturar para conseguir pagar-te o salário pretendido, enquanto pagas impostos, despesas de trabalho e crias um fundo de emergência para o teu futuro enquanto trabalhador independente.
a Pep Talk que eu precisava mesmo há 2 dias atrás (só li agora, depois de uma enorme discussão com uma cliente) :') mas vem sempre a tempo para as próximas <3 Obrigada !