Reconhece e representa a comunidade
Nesta newsletter falamos sobre como encontrar e construir uma comunidade e como a representar.
A união que reforça a força
Ao longo das entrevistas que fizemos – durante a fase inicial do projecto, procedemos a uma investigação sobre o que é ser TI em Portugal, em parceria com a Inês –, o tema Comunidade foi quase invariavelmente abordado. As vantagens que alguns sentiam em usufruir de redes sociais diversificadas e com dimensão, somavam-se às frustrações que outros apresentavam por haver entre profissionais das mesmas áreas ou categorias fiscais a reserva de informação ou as artimanhas da concorrência.
Mas apesar disso, foi visível a vontade – e curiosidade – dos profissionais liberais estarem unidos e de perceberem as dificuldades e as dores dos semelhantes.
Por nos aproximarem em gestos superficiais como o like, dando a impressão de sermos próximos, as redes sociais digitais vêm muitas vezes ofuscar o lado mais cru do que é ser um TI. Mas, sendo a finalidade destes perfis de foro comercial, dá-se primazia à partilha do resultado final, do concluído, do bem feito. E de parte fica a parte mais complexa de todas: o processo, os "não"s, os atrasos, os problemas e as dificuldades sentidas até à solução ou até ao cancelamento do contrato.
Acabamos por mostrar apenas aquilo que é "apresentável", o que acarreta o problema de não corresponder inteiramente à realidade. Mais do que olhar para estas plataformas de divulgação como canais para angariar novos clientes e para expandir a nossa rede de contactos, é preciso também encará-las como veículos para alcançar os nossos pares e a nossa comunidade.
Numa das nossas entrevistas, alguém referia o termo "rede de afinidades". E de facto parece-nos um termo acertado. Mais do que uma rede de contactos, é importante que de facto te relaciones com a tua comunidade. Mais do que uma rede extensa, é importante que te rodeies de uma rede de pessoas em quem confies, da tua área ou de áreas complementares à tua.
O trabalho independente pode, por vezes, ser imprevisível, por isso é importante que tenhas ao teu lado pessoas de confiança a quem possas pedir apoio quando estás numa situação de prazos apertados, com quem partilhes dificuldades com situações novas e desconhecidas, ou então com quem possas simplesmente trocar ideias. É essencial manter contacto com pessoas da área, perceber em que moldes estão a trabalhar, os processos pelos quais passam e, acima de tudo, as dificuldades que enfrentam. Vais perceber que não são assim tão diferentes das tuas. Aliás, muito provavelmente serão bem semelhantes. E se sozinho ainda não encontraste forma de solucionar essa dificuldade, juntos conseguimos muito mais rapidamente encontrar um fim ao problema.
Reconhecer a comunidade
Mas afinal qual é a tua?
Num período em que, aliada à febre do empreendedorismo, vem a febre das nomenclaturas profissionais, onde se arranjam nomes para todas as variantes da mesma profissão-mãe, vamos complicar um pouco:
Eu sou jornalista, escritor de contos, gestor de conteúdos, copywriter empresarial, sério jogger e freelancer.
Por se tratar de uma nomenclatura legal e fiscal, ser TI geralmente não é pensado como algo que nos torna diferentes dos demais profissionais da nossa área. Mas, apesar de muitas vezes o que entregamos ao cliente ser o mesmo, a verdade é que os processos, as rotinas e as negociações por que um TI passa, são em tudo diferentes dos seus colegas de trabalho da mesma área profissional mas em regime de contrato de trabalho. E são muito mais próximos de qualquer outro TI, mesmo que esse trabalhe numa área de natureza muito distinta.
Então eu sou todas aquelas coisas, mas ser freelancer é mais próximo do meu pronome do que talvez até a minha área profissional principal.
Eu sou freelancer, jornalista, escritor de contos, …
Uma das minhas comunidades é a dos trabalhadores independentes em geral.
E as outras?
Encontrar a nossa "família profissional"
Depois da comunidade de TI’s, seguem-se as comunidades profissionais, que podem ser únicas ou várias. Se a comunidade de TI’s nos oferece apoio, compreensão e cooperação entre profissionais liberais, a comunidade profissional oferece-nos oportunidades ao posicionar-nos no nosso mercado de trabalho.
As instituições de ensino são o sítio base onde muitos de nós começam a lidar com os "seus", mas é importante diversificares a tua rede e encontrares outras afinidades noutros locais – podes nem vir de um sistema de ensino tradicional. Os espaços de trabalho, por exemplo, podem ser um local de criação inevitável de afinidades. Seja um espaço partilhado com conhecidos, ou então um local de co-work onde desconhecidos se podem tornar aliados com facilidade. Estas pessoas acabam por ser os teus colegas de escritório, os teus colegas de equipa. Às vezes um espaço como um café pode agregar uma comunidade de partilhado interesse profissional. É importante estar atento, mas também receptível.
É através destas redes de contactos que muitas vezes surgem novos projectos e oportunidades de trabalho. O boca a boca é, de facto, a ferramenta mais eficaz na divulgação do nosso trabalho. É importante que as pessoas com quem trabalhamos fiquem satisfeitas, pois dessa satisfação, muitas vezes surgem recomendações espontâneas a outras pessoas. Trabalho puxa trabalho… Diriamos até que bom trabalho puxa trabalho ainda melhor.
Um trabalho competente por si só, não significa necessariamente sucesso profissional. Como um trabalho incompetente também não resulta obrigatoriamente em insucesso. Existem questões relacionadas com a área profissional dos trabalhadores, com a geografia onde habitam ou a própria natureza de cada um que, por vezes, podem facilitar ou prejudicar uma vida profissional duradoura e estável. Mas não desesperes, com informação e aprendizagem, tudo é ultrapassável e o teu espaço, caso não o tenhas descoberto, está aí à espera de ser encontrado.
Representar a comunidade
Depois de descoberto esse espaço, é importante que o defendas, tanto o teu espaço pessoal e o teu trabalho, como a tua própria comunidade.
É importante cultivares uma boa relação com os teus pares e é igualmente relevante teres uma carteira de clientes consistente e consolidada, baseada nesse mesmo princípio. Na maioria dos casos, as oportunidades de trabalho acabam por surgir por referência e recomendação de antigos clientes, colegas ou amigos.
Procura encontrar um equilíbrio entre tempo de trabalho propriamente dito e tempo para tarefas complementares. A auto-promoção é uma delas. E muitas vezes auto-promoção significa teres uma boa comunicação e saberes divulgar o teu trabalho.
Representa-te
Em muitas áreas, as redes sociais são autênticos fenómenos de gerar clientes, noutras ter um website é obrigatório. Tenta encontrar o teu nicho e aquele em que o teu público-alvo se insere. Por vezes estas plataformas estão ligadas com a própria natureza de cada área profissional. Áreas mais criativas e de natureza "visual", têm mais impacto no Instagram ou num website próprio, ao invés de que áreas relacionadas com a tecnologia ou mais corporativas, encontram em plataformas como o LinkedIn uma melhor divulgação do seu trabalho.
Uma presença digital hoje em dia é quase essencial na maioria das áreas profissionais. Mas o boca a boca ainda faz muita diferença e é essencial que o aprendas a dominar para que te seja beneficial. Pelo menos deves aceitar a sua importância como ferramenta de trabalho.
Sentimo-nos mais confortáveis e confiantes em trabalhar com alguém que nos foi recomendado, e é natural que assim seja. É importante, por isso, criarmos boas relações e primeiras boas impressões. Ter um cartão de visita sempre à mão pode ser essencial para encontros espontâneos. Mantermos o contacto com antigos colegas e/ou clientes pode ser uma excelente forma de iniciar novos projectos.
Acima de tudo, estar pronto, mostrar abertura para ouvir o que o outro tem para dizer, apresentar as competências certas e interesse em colaborar, e o resto, de certeza que virá atrás.
Representa-nos
Mas e o que podes fazer pela tua comunidade? Independentemente da forma como encontras as tuas oportunidades de trabalho, da forma como te relacionas com a tua comunidade ou como encontras pessoas para colaborarem contigo, procura sempre ser ético.
Não explores o trabalho dos outros, mesmo os teus sub-contratados. Eles são teus colegas e vocês pertencem todos ao mesmo todo. Amanhã a vossa relação pode ter-se invertido.
Não faças concorrência desleal. Procura perceber os preços que são praticados na tua área. Ao baixares o teu preço, baixas o de todos. Se queres mesmo ficar com o projecto, mostra ao cliente qual é o verdadeiro preço desse trabalho no mercado e conversem sobre como podem chegar a um valor que vá mais de encontro às suas expectativas e possibilidades. Sê claro e transparente. E não te esqueças que a definição de bom trabalho inclui uma boa compensação, seja ela qual for, tem de existir.
Procura a tua comunidade. Percebe quem são os teus colegas e onde podes encontrar o teu círculo de afinidades. Rodeia-te da tua comunidade, dos teus “colegas de escritório”, seja por canais digitais ou presencialmente. Contrata e confia em TI’s.
Ajuda o próximo e deixa que te ajudem a ti. Discute preços, abordagens, decisões tomadas, problemas e opiniões. Uma comunidade informada e unida significa uma comunidade mais forte, que evolui.
E é isso que todos queremos, não é?
Uma classe mais justa. Mais esclarecida. Mais capaz.
Muito boa reflexão, a comunidade é tudo para os freelancers.